Falta de rastreamento dificulta diagnóstico precoce de câncer no país.


Detecção prévia de tumor aumenta sobrevida do paciente, apontam especialistas


Folha de São Paulo
Seminários Folha — Câncer
Paulo Ricardo Martins
26.out.2021


O Brasil não tem investido em políticas de saúde para fazer o rastreamento da população com o intuito de identificar precocemente casos de câncer. É o que diz Maira Caleffi, fundadora do Instituto da Mama do Rio Grande do Sul. 

A mastologista participou do 6º Seminário sobre Câncer — O Futuro do Tratamento Oncológico, promovido pela Folha na última segunda (25), com patrocínio do Hospital Sírio-Libanês e do Grupo Pardini.

Segundo Caleffi, o rastreamento pode diminuir custos de tratamento e aumentar a sobrevida de pacientes.

A ideia é acompanhar pessoas sem sintomas e, por meio de exames, detectar anormalidades. 

Assim, é possível evitar intervenções mais complexas, feitas quando o tumor já se formou ou está em estágio avançado, afirma a médica.

… rastreamento pode diminuir custos de tratamento e aumentar a sobrevida de pacientes.

https://joaquimcardoso.blog/media/6cea15d46772136305e439b3c0916611

No caso das mulheres, por exemplo, o ginecologista deve cobrar presença nas consultas para acompanhamento. “Isso é encarar o rastreamento como uma política de saúde”, diz a mastologista.


No país, há uma recomendação para a realização de exames precoces, mas nem sempre ela é seguida, afirma Karina Ribeiro, consultora da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde) para implantação da iniciativa global sobre câncer infantil na América Latina e Caribe.

Na opinião da especialista, há um desequilíbrio no acesso a exames, como aqueles para detectar alterações nas mamas e no colo do útero.

Nós vivemos no Brasil uma dualidade: há mulheres que nunca fizeram mamografia ou exame de papanicolau na vida; por outro lado, é fácil identificar aquelas que fazem exames a cada três ou seis meses, o que está fora de qualquer recomendação conhecida.”

Nós vivemos no Brasil uma dualidade: há mulheres que nunca fizeram mamografia ou exame de papanicolau na vida; por outro lado, é fácil identificar aquelas que fazem exames a cada três ou seis meses, o que está fora de qualquer recomendação conhecida.”

Além da falta de rastreamento, o médico Artur Katz, diretor do centro de oncologia do Hospital Sírio-Libanês, afirma que doenças virais, como o HPV, também contribuem para o aumento dos casos de câncer no país, entre eles os de colo de útero e de pênis.


Os especialistas também afirmam que investir em um estilo de vida saudável contribui para a prevenção da doença. 

  • Segundo Karina Ribeiro, estudos mostram que 34% dos casos no Brasil estão associados a fatores ambientais — caso de má alimentação, sedentarismo, consumo de álcool e tabaco.
  • No entanto, os riscos de alguém desenvolver a doença estão mais ligados a erros de duplicação do DNA nas células do que a esses fatores externos, de acordo com estudo da Universidade John Hopkins, nos EUA, publicado em 2017.

Segundo Katz, muitos pacientes desconhecem casos de câncer na família, o que pode atrasar o diagnóstico da doença. “Na maioria das vezes, quando o paciente diz ‘não há casos de câncer na minha família’, ele quer dizer que não há casos que ele saiba.”

Para Maira Caleffi, a dificuldade de acesso ao teste genético é um problema a ser enfrentado no Brasil. O procedimento não é oferecido pelo SUS, o que impede pacientes de saberem se têm predisposição a algum tipo de câncer.

De todo modo, Katz explica que o exame tem limitações e não é determinante. “Quando o teste vem negativo, o que podemos dizer é: ‘Dentro das coisas que posso investigar no momento, não encontrei nada’. Isso é diferente de dizer: ‘Juro por Deus que o seu caso não é hereditário’.”

Durante o seminário, Maira Caleffi também falou sobre alguns mitos relacionados às causas da doença. Segundo ela, alguns estudos apontam para um risco maior de câncer de mama para mulheres que tomaram pílulas anticoncepcionais por mais de cinco anos e antes do primeiro filho.

Mesmo assim, diz ela, isso não deve ser motivo de preocupação. “Eu não costumo deixar de prescrever a pílula por conta desse pequeno risco aumentado”, afirma.

Além disso, a médica tranquiliza sobre o medo de desenvolver um tumor ao fazer mamografia ou ao bater o seio durante um acidente.

“Quando a pessoa bate [a mama], ela sente o caroço, mas não foi a batida que gerou o tumor. E a mamografia não provoca câncer por causa da compressão nem espalha metástases.”


Originally published at https://www1.folha.uol.com.br on October 26, 2021.


Nomes citados

Maira Caleffi, fundadora do Instituto da Mama do Rio Grande do Sul;

Karina Ribeiro, consultora da Opas (Organização Pan-Americana da Saúde) para implantação da iniciativa global sobre câncer infantil na América Latina e Caribe.

Artur Katz, médico, diretor do centro de oncologia do Hospital Sírio-Libanês.

Total
0
Shares
Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Related Posts

Subscribe

PortugueseSpanishEnglish
Total
0
Share