Estudo inédito aborda o uso de quimioterapia no final da vida


Medicina S/A
 24/06/2021

Citações: Munir Murad Junior; Thiago Henrique Mascarenhas Nébias, Marcos Antonio da Cunha Santos, Mariangela Cherchiglia


Estudo inédito apresentado no ASCO Annual Meeting 2021 mostra que a taxa de uso de quimioterapia no último mês de vida permanece alta entre os pacientes com câncer no Brasil. 

O encontro, realizado pela Sociedade Americana de Oncologia Clínica, é o maior congresso sobre câncer do mundo.

De acordo com um dos pesquisadores, o oncologista da Oncomed BH, clínica especializada de referência em prevenção e tratamento de doenças neoplásicas, Munir Murad Junior, 

  • as taxas de quimioterapia no fim da vida variam em todo o mundo, 
  • mas, em resumo, até um quinto dos pacientes com câncer são tratados com quimioterapia no último mês de vida, sem benefícios claros. 

O médico é o primeiro autor de estudo brasileiro que integra o estudo científico do ASCO 2021

Segundo os autores, a quimioterapia nos últimos dias de vida não está associada a um benefício de sobrevida e dados recentes sugerem que ela pode causar danos 

  • ao diminuir a qualidade de vida e 
  • aumentar os custos. 

O objetivo do estudo foi descrever a taxa de uso de quimioterapia no último mês de vida em pacientes candidatos a cuidados paliativos no Brasil.

Como foi conduzido o estudo?


O estudo contou com base de dados de pacientes do Sistema Único de Saúde (SUS). 

A população do estudo é composta por todos que iniciaram o tratamento oncológico entre 2009 e 2014 e que estiveram internados pelo menos 1 vez após o início do tratamento. Já para abordar a indicação de cuidados paliativos, foram selecionados os pacientes cujo óbito ocorreu no prazo de um ano após a primeira internação.

Conforme o trabalho apresentado, um total de 299.202 pacientes iniciaram o tratamento contra o câncer naquele período e 62.249 morreram 1 ano após a internação. Entre os pacientes falecidos, a mediana de idade foi de 62 anos, 50,9% deles estavam em estágio IV e 34,1% em estágio III e 46% residiam na região sudeste do país.

Os cânceres mais comuns foram:

  • de pulmão (n = 17805; 28,6%) 
  • colorretal (n = 12273; 19,7%) e 
  • gástrico (n = 10248; 16,5%). 

O número médio de internações foi de 2,7 e 89% desses pacientes necessitaram de internação de emergência.

Cerca de metade (45,4%; n = 28.250) dos pacientes fez quimioterapia nos últimos 30 dias de vida. 

As taxas de uso de quimioterapia no último mês foram de 

  • 44% para câncer de pulmão, 
  • 74,4% para câncer de cólon, 
  • 50,2% para câncer gástrico e 
  • 51,8% para câncer de mama.

Conclusão


A conclusão é que, apesar das recomendações internacionais sobre não utilizar quimioterapia no final da vida, essa parece ser uma prática comum. 

“Medidas para implantação de cuidados paliativos precoces devem ser uma prioridade para o atendimento aos pacientes com câncer no Brasil”, 
reforçou o oncologista Munir Murad Junior.

Sobre os autores

De autoria dos médicos, Thiago Henrique Mascarenhas Nébias, Marcos Antonio da Cunha Santos, Mariangela Cherchiglia, a pesquisa recebeu financiamento do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) — Brasil, e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais (FAPEMIG).


Originally published at http://medicinasa.com.br

on June 24, 2021.

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