Brasil no ranking mundial do Covid-19: Situação em 20 de junho de 2021


Monitor da Saúde
André Cezar Medici
Junho de 2021
Bioworld (image)

Destaques

A tabela 1 mostra o comportamento do Brasil em relação aos registros oficiais da pandemia do Covid-19, destacando os indicadores epidemiológicos (casos e mortes) e os indicadores de medidas para controle e imunização (testagem e vacinação), a partir de dados acumulados desde o início da pandemia.

  • O Brazil ocupa a 10 posição no ranking global de mortes per capita (mortes por milhão de habitantes), com 2.345 mortes por milhão, de um ranking de 193 países da WHO, até 20 de Junho de 2021.
  • Embora o Brasil seja o 5º país que mais aplicou vacinas em termos absolutos, o Brasil ocupava em 18 de junho de 2021 a 58ª posição no que se refere ao número de vacinas aplicadas por 100 habitantes, embora o Brasil seja a 12a economia do mundo (2020)
  • Somente 11% de sua população havia sido totalmente vacinada e 30% havia recebido pelo menos uma dose da vacina contra o Covid-19, enquanto no Chile 49% da população já havia sido vacinada.
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ARTIGO COMPLETO

Mortes Registradas e Estimadas por Covid-19


Após várias ondas pandêmicas a humanidade completará, em fins de junho de 2021, um ano e meio convivendo com o Covid-19. Chegará ao final do mês com mais de 180 milhões de casos (2,4% da população mundial) e mais de 4 milhões de mortes registradas (0,05%) na população mundial. Estes números, ainda que impactantes, provavelmente não refletem o real estrago global trazido pela pandemia, dado que os processos de registro de casos e mortes refletem apenas uma parte da morbidade e da mortalidade pandêmica. Muitos países, especialmente os mais pobres, não dispõe de sistemas de vigilância sanitária e suas estatísticas vitais não são suficientemente robustas para registrar a real dimensão epidemiológica do Covid-19.


Um estudo realizado em maio de 2021 pelo Institute of Health Metrics and Evaluation (IHME)[i], uma das mais importantes instituições científicas destinadas a medir estatísticas e métricas de saúde ao nível mundial, estimou que o número de mortes acumuladas por Covid-19 até 13 de maio de 2021, alcançou 7,1 milhões (0,09% da população mundial), o que seria mais do dobro dos 3,3 milhões registrados pelas estatísticas oficiais dos países até aquele dia. O gráfico abaixo, extraído do estudo mencionado, mostra as médias diárias de mortes registradas e estimadas por Covid-19, ao nível mundial entre dezembro de 2019 e maio de 2021.

Gráfico 1: Média diária de mortes globais registradas e estimadas por Covid-19 ao nível mundial: dezembro de 2019 a maio de 2021.

Fonte: IHME (2021)

As taxas de sub-registro de mortes por Covid-19 variam de país para país, de acordo com as fortalezas dos sistemas de saúde, das estatísticas vitais e dos sistemas de vigilância sanitária e epidemiológica existentes. Os sistemas de saúde são os responsáveis por identificar e classificar as causas de mortalidade e para isso, tem que contar com médicos e pessoal especializado acompanhando os pacientes ou realizando estudos que permitam identificar as causas entre os que não tinham acompanhamento médico antes de morrerem.

O gráfico 2 mostra o número de mortes estimadas e registradas, de acordo com a metodologia do estudo do IHME, nos dez países com maior número de mortes acumuladas até 13 de maio de 2021.

Fonte: IHME, 2021

Como pode ser visto, a brecha entre o número de mortes estimadas e registradas pode apresentar grandes variações. Na França se estima que cerca de 80% das mortes por Covid-19 tem sido registradas, mas em países como o Brasil, Itália e Espanha, o número de mortes registradas foi em torno de 69%. Em países como o México e Índia, somente um terço das mortes por Covid-19 tem sido registradas, segundo as estimativas do IHME. Mesmo nos Estados Unidos — o país que registrou o maior número absoluto de mortes por Covid-19 — se estima que somente 63% das mortes foram registradas, o que elevaria o número de mortes acumuladas até 13 de maio de 2021 naquele país, de 579 mil para quase 1 milhão. Casos extremos de baixo registro, segundo o IHME, ocorrem na Federação Russa, onde somente 18% das mortes parecem ter sido registradas.

Considerando as estimativas do IHME, pode-se dizer que o Brasil, que em 13 de maio de 2021 era o segundo país com maior número absoluto de mortes, passaria para a 4ª posição, sendo superado pela Índia e pelo México, e a Federação Russa também estaria com um número de mortes por Covid-19 muito próximo ao existente no Brasil.


O Brasil no Ranking Mundial do Covid-19 em Junho de 2021


Dados acumulados sobre a pandemia refletem situações pregressas. Muitos países, após atingirem um número extremo de casos e mortes pela pandemia, parecem estar em uma rota de rápido descenso ao fim de junho de 2021, em função de vários fatores, onde se destaca o ritmo de vacinação. Em 20 de junho de 2021, países como Reino Unido, França e Estados Unidos registraram somente 6, 14 e 86 novas mortes por Covid-19, enquanto Índia e Brasil registraram 1113 e 1050, respectivamente.


O que interessa no presente momento é mapear como os países estão encontrando uma rota de saída para a eliminação da contaminação pandêmica, e isso depende de várias circunstâncias, entre elas: (i) o ritmo de vacinação para garantir, no menor tempo possível, um determinado nível de imunidade de rebanho na medida do possível irreversível; (ii) a eficiência do que se aprendeu em termos de medidas de distanciamento social, para garantir que, mesmo não havendo vacinação, os níveis de contaminação estariam baixos em função da consciência da população e da vigilância governamental para evitar comportamentos de risco antes que os níveis de vacinação atinjam patamares seguros de imunidade; (iii) o ritmo de testagem, para ver se há acompanhamento e avaliação em sintonia fina dos níveis de contaminação, para determinar tendências e organizar ao nível local medidas de proteção, e (iv) o nível de resposta a casos graves, no sentido de saber se há lotação excessiva de leitos para pacientes graves e riscos de que novos pacientes graves não sejam atendidos e tratados.


A tabela 1 mostra o comportamento do Brasil em relação aos registros oficiais da pandemia do Covid-19, destacando os indicadores epidemiológicos (casos e mortes) e os indicadores de medidas para controle e imunização (testagem e vacinação), a partir de dados acumulados desde o início da pandemia.


Tabela 1 — Posicionamento do Brasil em relação aos Indicadores Relacionados à Pandemia do Covid-19 em 20 Junho de 2021 (dados acumulados desde o início da pandemia)

Fonte: https://www.worldometers.info/coronavirus/ (acesso em 21 de junho, 2021) e New York Times https://www.nytimes.com/interactive/2021/world/covid-vaccinations-tracker.html (acesso em 21 de junho, 2021)


Considerando os níveis históricos acumulados até 20 de junho de 2021, o Brasil era o terceiro país com o maior número absoluto de casos (Depois dos Estados Unidos e Índia) e o segundo com o maior número absoluto de mortes (sendo superado somente pelos Estados Unidos). Mas os valores relativos destes indicadores, ou seja, como eles se refletem por milhão de habitantes, são mais representativos da realidade. Neste particular, o Brasil ocupava a 29ª posição em termos de casos por milhão de habitantes (20ª posição se considerados países com mais de um milhão de habitantes) e a 10ª posição em termos de mortes por milhão de habitantes (7ª posição se considerados os países com menos de um milhão de habitantes). Estes dados colocam o Brasil entre os países que acumularam maior fragilidade em termos de exposição à pandemia do Covid-19.

No que diz respeito à resposta brasileira ao Covid-19, como já avaliamos em outras postagens deste blog, esta tem sido bastante precária. Em relação ao número de testes, pelo tamanho de sua população, o Brasil foi o 12º país com maior número absoluto de testes, mas ocupava a 117ª posição, no que se refere ao número de testes acumulados por milhão de habitantes, tendo sido um dos países que menos testaram sua população frente a expansão da pandemia. Isso demonstrou a posição tímida do governo brasileiro em não buscar conhecer em detalhe as tendências da contaminação pandêmica para poder identificar áreas onde os riscos de contaminação eram maiores e propor medidas de controle pandêmico e distanciamento social.

Por outro lado, o Brasil começou a vacinação contra o Covid-19 relativamente tarde. Embora seja o 5º país que mais aplicou vacinas em termos absolutos, o Brasil ocupava em 18 de junho de 2021 a 58ª posição no que se refere ao número de vacinas aplicadas por 100 habitantes. Nesta data, somente 11% de sua população havia sido totalmente vacinada e 30% havia recebido pelo menos uma dose da vacina contra o Covid-19.

Fonte: New York Times https://www.nytimes.com/interactive/2021/world/covid-vaccinations-tracker.html (acesso em 21 de junho, 2021)

No entanto, poucos países da América Latina se encontram em melhor situação do que o Brasil no que se refere ao número de pessoas totalmente vacinadas contra o Covid-19, destacando-se o Chile e o Uruguai, que já detém quase metade de suas populações totalmente vacinadas. A disponibilidade das vacinas continua sendo precária na América Latina, o que é agravado pelo fato de que a Região tem sido a mais afetada pela pandemia no contexto global. Com isso, é de se esperar que as taxas de infecção e mortalidade pela pandemia continuem elevadas. Mesmo países com altas taxas de vacinação, como o Chile, continuam tendo um número elevado de casos e mortes, o que fez com que o governo chileno decretasse, na semana de 14 de junho passado, uma nova quarentena da população nas principais cidades.

Os dados mostram que vários países da Região, incluindo Colômbia, Argentina, Cuba, Equador, Suriname e Bolívia, apresentavam um percentual da população totalmente vacinada menor do que o encontrado no Brasil, enquanto que El Salvador, Costa Rica, México e Guiana, além de Barbados e Santa Lúcia, apresentaram maiores coberturas até o dia 18 de junho de 2021.

O Brasil teve o pico de sua segunda onda pandêmica em abril de 2021 e desde então, tem tido uma leve queda no número de casos e mortes, os quais continuam em patamares muito elevados, apresentando, novamente no início de junho de 2021 uma nova tendência a elevação no número de casos e mortes. Considerando os dados de 20 de junho, o Brasil, depois da Índia, ainda é o país que apresenta o maior número diário de casos de Covid-19, ao nível internacional, o que demonstra que o país deverá conviver com altas taxas de infecção ainda por algum tempo.

Fonte: https://www.worldometers.info/coronavirus/ (acesso em 21 de junho, 2021)

O gráfico 4 mostra, à esquerda, a evolução das médias móveis semanais do número de casos de Covid-19 e a direta, as médias móveis semanais do número de mortes por Covid-19 no Brasil entre fevereiro de 2020 e junho de 2021. Observa-se que, no que se refere ao número de casos, o país se mantém em patamares elevados desde março de 2021, voltando a crescer na última semana. A média móvel diária na semana de 20 de junho de 2021 era de 73,4 mil casos novos diários, valor superior ao da Índia, que na mesma semana atingiu uma média diária de 61,0 mil casos. Assim, o Brasil nesta semana liderou o número de novos casos diários de Covid-19. Com relação a média móvel diária do número de novas mortes nesta mesma semana, a Índia alcançou 1323, enquanto que o Brasil marcou 2063 mortes diárias na mesma semana.

Portanto, o Brasil ao fim de junho parece ainda ser o epicentro mundial da pandemia de Covid-19 e isto tem sido recorrente, ao longo dos últimos meses. De todos os modos, os dados comparativos com a Índia devem ser relativizados, dado que, como apontam as estimativas do IHME, apenas um terço das mortes e, provavelmente, um número ainda menor de casos de Covid-19, são registrados naquele país, enquanto que no Brasil se estima que mais de dois terços das mortes pela pandemia tem sido registradas.

No entanto, quando comparados com o contingente populacional, os dados do Brasil são muito mais alarmantes do que os da Índia, que conta com uma população quase sete vezes maior do que a de nosso país. Assim, no dia de 20 de junho de 2021, o número de novos casos diários por milhão de habitantes na Índia alcançava 38,1 enquanto que no Brasil alcançava 206,4. E a realidade brasileira ainda é melhor do que a de muitos países da América Latina, considerando que a Região vem sofrendo uma nova onda da pandemia em muitos países. Para exemplificar, nesta mesma data, o número de novos casos diários registrados por milhão de habitantes chegava a 541,2 na Colômbia, 425,1 no Uruguai, 297,6 no Chile e 228,0 na Argentina. Mas os registros diários de casos de Covid-19 não dizem muito, dado que, além dos problemas de sub-registro mencionados anteriormente, o registro tardio do número de casos é uma prática corriqueira, especialmente nos fins de semana. Médias móveis semanais constituem um melhor indicador, mas mesmo assim, ainda são precários.

Uma comparação interessante


Considerando que Estados Unidos e Brasil tem alternado, durante muito tempo, os piores desempenhos em relação ao número relativo de casos e mortes pela pandemia, valeria a pena identificar a trajetória comparada destes dois países em termos das médias móveis semanais do número de novos casos e de novas mortes, associados a pandemia, por milhão de habitantes entre março de 2020 e junho de 2021[ii], como se pode ver nos gráficos 5 e 6.

Fonte: https://www.worldometers.info/coronavirus/ (acesso em 21 de junho, 2021)

Considerando o número de novos casos diários por milhão de habitantes, verifica-se que o Brasil somente ultrapassou os Estados Unidos em 2020 nos meses de julho, agosto e setembro daquele ano. Entre outubro de 2020 e janeiro de 2021, os Estados Unidos viveu uma grande bolha de infecção pandêmica, onde o número de casos diários chegou a ser mais de três vezes superior ao encontrado no Brasil. Mas, com o início de um processo consistente de vacinação em janeiro de 2021, a partir da posse de Joe Biden, o número de casos diários por milhão nos Estados Unidos despencou, passando para 597,2, em janeiro de 2021, para 35,1 em junho de 2020 — uma espantosa redução de praticamente 17 vezes.

O Brasil também iniciou seu processo de vacinação em janeiro de 2021 com a iniciativa pioneira do Governador João Dória, no Estado de São Paulo, mas o processo tem sido lento e não tem tido a resposta esperada pela lentidão do processo de vacinação e pelo descontrole das medidas de contenção pandêmica ao nível de distintos Estados. Enquanto os Estados Unidos alcançaram uma população totalmente vacinada de 45% em 18 de junho de 2021, este percentual é de apenas 11% no Brasil e, certamente, isto explica boa parte do problema. Em 20 de junho de 2021, o número de novos casos diários da pandemia no Brasil era de 341,1 por milhão, ou seja, quase 10 vezes maior do que o Registrado nos Estados Unidos.

Fonte: https://www.worldometers.info/coronavirus/ (acesso em 21 de junho, 2021)

Com relação ao número de novas mortes por milhão de habitantes, a realidade é um pouco pior para o Brasil. O gráfico 6 mostra que no ano de 2020, o Brasil apresentou piores indicadores do que os Estados Unidos por um período ininterrupto de 5 meses, entre junho e outubro daquele ano. Mas passado o impacto da segunda onda da pandemia nos Estados Unidos, o Brasil volta a superar aquele país no número de mortes diárias por milhão de habitantes desde março de 2021. Em abril de 2021, esse indicador alcançou seu maior valor — 13,2 mortes diárias por milhão de habitantes — mas desde então tem alcançado valores menores, estando na faixa de 9,6 em 20 de junho de 2021, valor mais de dez vezes superior ao registrado nos Estados Unidos onde a pandemia já demonstra um consistente descenso no número de casos e de mortes.

Síntese

Em síntese, o Brasil se encontra ainda numa encruzilhada em sua luta para controlar a pandemia e neste processo, duas ações, no mínimo, são necessárias:

  1. aumentar a disponibilidade e a eficiência no processo de vacinação para alcançar uma velocidade de imunização que impeça a pandemia de continuar se expandindo, especialmente tendo em vista novas variantes, como a delta, que agora se encontra em franca expansão em muitas regiões do país;

  2. aumentar a intensidade e a velocidade de testagem da população para verificar quais são as tendências regionais de expansão da pandemia e utilizar medidas cirúrgicas de controle pandêmico, evitando um aumento do risco em áreas mais vulneráveis.

Projeções


O IHME, nas circunstâncias atuais, projeta em sua modelagem, que o número de mortes pela pandemia no Brasil poderá alcançar 735,4 mil no dia 1º de outubro de 2021, das quais 75,3 mil estariam acumuladas no Rio de Janeiro e 144,3 mil no Estado de São Paulo.


References


[i] IHME (2021), Estimation of total mortality due to COVID-19, Publicado pelo IHME em 13 de maio de 2021, Link: http://www.healthdata.org/special-analysis/estimation-excess-mortality-due-covid-19-and-scalars-reported-covid-19-deaths.

[ii] Se considera a média móvel da semana do dia 20 em cada mês entre março de 2020 e junho de 2021

Originally published at http://monitordesaude.blogspot.com.

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