O Globo
Por Giovanni Cerri
17/04/2022
Telemedicina cresceu na pandemia | Hermes de Paula/Agência O Globo/26.11.2020
A medicina tem sua ética enraizada num juramento de mais de 2.400 anos: o de que o médico aplicará seu poder e entendimento para o bem do doente e nunca para causar dano ou mal.
Isso nasce em um período em que pouco se podia fazer pela saúde de alguém além de entoar cânticos ou sacrificar animais.
Não haveria espaço aqui, claro, para enumerar o progresso da medicina desde então, mas com toda a tecnologia digital à disposição, é tempo de avaliar como os avanços se relacionam com a ética milenar da medicina.
Não haveria espaço aqui, claro, para enumerar o progresso da medicina desde então, mas com toda a tecnologia digital à disposição, é tempo de avaliar como os avanços se relacionam com a ética milenar da medicina.
Esta é uma das discussões que compõem o relatório “Diálogos Brasil — Reino Unido em Saúde Digital: Desafios e Oportunidades em Telessaúde” — resultado da colaboração entre o governo britânico, o Instituto Coalizão Saúde (ICOS) e o InovaHC.
E não há como ressaltar o suficiente a relevância dessa discussão: a telemedicina, por exemplo, só se tornou expressiva na prática há pouco mais de dois anos, quando foi declarada a pandemia de Covid-19.
Não é algo que seja componente do currículo de formação da maioria dos médicos ou de quaisquer outros profissionais de saúde. Mas precisa passar a ser.
Esta é uma das discussões que compõem o relatório “Diálogos Brasil — Reino Unido em Saúde Digital: Desafios e Oportunidades em Telessaúde” — resultado da colaboração entre o governo britânico, o Instituto Coalizão Saúde (ICOS) e o InovaHC.
Também não é que se trate de uma novidade absoluta para médicos e profissionais de saúde. Afinal, a ética médica já faz parte da formação profissional e acadêmica. E computadores são tão parte do instrumental de trabalho de profissionais de praticamente todas as categorias.
Mas a conectividade do mundo atual, que se tornará cada vez mais presente nas vidas de todos nós, apresenta algumas questões.
A segurança dos dados do paciente é uma delas.
Tais dados são confidenciais: médico e paciente estabelecem uma relação de confiança, e informações de cunho pessoal são compartilhadas.
Aqui, a questão pode parecer mais relativa às habilidades de profissionais da tecnologia da informação.
Também é dever do médico, no entanto, zelar pela proteção de um volume cada vez mais completo de informações sobre seus pacientes.
Como diz o juramento: o que não for preciso divulgar, deve ficar inteiramente secreto.
Mas a conectividade do mundo atual, que se tornará cada vez mais presente nas vidas de todos nós, apresenta algumas questões
Há ainda a questão da humanização no contato entre médico e paciente.
Como tornar o atendimento sem contato pessoal mais próximo, no qual certas limitações técnicas — desde a qualidade da conexão até a própria iluminação do ambiente — podem afetar a qualidade do serviço?
A humanização já é uma preocupação da medicina há tempos, e a partir de agora surgem novos desafios.
Em relação ao alcance, vale lembrar que o Brasil, em sua extensão continental, tem regiões em que o acesso à medicina é precário, para dizer o menos.
Contar com recursos tecnológicos que permitam a médicos de grandes centros urbanos prestar atendimento a áreas remotas e carentes é um benefício inestimável.
O avanço da tecnologia pode e deve ser repensado como uma forma de equilibrar o acesso à saúde de qualidade, reduzindo a desigualdade, além de viabilizar uma abordagem mais abrangente em todas as dimensões do cuidado com pacientes.
Em relação ao alcance, vale lembrar que o Brasil, em sua extensão continental, tem regiões em que o acesso à medicina é precário, para dizer o menos.
O avanço da tecnologia pode e deve ser repensado como uma forma de equilibrar o acesso à saúde de qualidade, reduzindo a desigualdade, além de viabilizar uma abordagem mais abrangente em todas as dimensões do cuidado com pacientes.
Tais questões não esgotam os dilemas éticos com que os médicos vão se defrontar na era da saúde digital.
Mas são guias para que se comece a pensar em como associações médicas, conselhos, federações, empresas e os próprios médicos vão construir seus códigos e manuais de ética e boas práticas, segundo regras legais.
Tudo isso sempre tendo em vista o bem-estar dos pacientes — que são, afinal, a razão para da existência de um juramento milenar.
Tais questões não esgotam os dilemas éticos com que os médicos vão se defrontar na era da saúde digital.
Mas são guias para que se comece a pensar em como associações médicas, conselhos, federações, empresas e os próprios médicos vão construir seus códigos e manuais de ética e boas práticas, segundo regras legais.
Tudo isso sempre tendo em vista o bem-estar dos pacientes
Originally published at https://blogs.oglobo.globo.com on April 17, 2022.