As taxas de utilização de cateter venoso central, cateter vesical de demora e ventilação mecânica permaneceram altas em 2021
ANAHP
Observatório ANAHP 2022
Ary Ribeiro e André Medici
Abril de 2022
Este é um excerto do Observatório da ANAHP 2022, com o título acima, que consta das páginas 117 a 126 do relatório completo.
Qualidade e segurança assistencial
Atentos à redução de danos aos pacientes, hospitais Anahp praticam a melhoria contínua do cuidado
Um dos propósitos da Anahp, desde sua criação em 2001, é a melhoria continuada da qualidade do cuidado e da segurança assistencial. Mostrar isso de forma transparente, contribuindo para o aprimoramento do setor de saúde de forma geral, também é um dos pilares da instituição.
Como em anos anteriores, dentre outras ações, os hospitais trabalharam para a prevenção de lesão por pressão e de infecções relacionadas à assistência à saúde, para a segurança na prescrição de medicamentos e para o aumento de barreiras a fim de garantir a segurança cirúrgica.
Através da atuação de seus Grupos de Trabalho, a Anahp disponibiliza protocolos e cartilhas que contribuem significativamente para a segurança e a qualidade da atenção ao paciente, padronizando melhores práticas, que são revisitadas e atualizadas com frequência pelos grupos.
Sobre os indicadores de qualidade e segurança apresentados neste capítulo, é importante ressaltar que podem ocorrer desvios-padrão relevantes, esperados pela heterogeneidade do grupo de hospitais.
Em geral, a mudança do perfil dos pacientes atendidos, em decorrência da pandemia de Covid-19, trouxe importantes desafios aos hospitais Anahp. Na UTI adulto e na unidade de tratamento semi-intensivo, podem ser observadas maiores taxas de utilização de cateter venoso central, cateter vesical de demora e ventilação mecânica. A disseminação das boas práticas de qualidade e segurança assistencial é essencial para que as infecções relacionadas ao uso desses dispositivos não tenham resultados desfavoráveis.
Indicadores de segurança
O sistema de segurança do paciente tem como objetivo a redução dos danos ao paciente. Prioridade entre instituições associadas à Anahp, resulta na melhoria do cuidado, na utilização mais adequada dos recursos e em melhor eficiência assistencial. Esse processo também requer avaliações externas independentes para identificar oportunidades de melhoria e avaliar a eficácia de sua implementação.
Nos últimos anos, vários hospitais associados à Anahp conquistaram mais de um modelo de certificação, tanto para o hospital como para determinados programas de cuidados clínicos.
As instituições podem ser reconhecidas por um ou mais modelos de acreditação, nacional — Organização Nacional de Acreditação (ONA) — ou internacional — Qmentum International Accreditation Program, Joint Commission International (JCI) e DNV International Accreditation Standard/National Integrated Accreditation for Healthcare Organizations (DIAS/NIAHO), entre outras certificações reconhecidas pela International Society for Quality in Health Care (ISQua).
A segurança do paciente é uma agenda reconhecida como relevante pelo Ministério da Saúde, que, em 2013, lançou o Programa Nacional de Segurança do Paciente com o objetivo de monitorar e prevenir danos na assistência à saúde, a partir da aplicação e fiscalização de regras e protocolos de atendimento que previnam falhas na assistência. Dentre os dados avaliados estão: prevenção de infecção relacionada à assistência à saúde, cirurgia segura, prevenção de lesão por pressão e de quedas.
Nos últimos anos, hospitais Anahp conquistaram mais de um modelo de certificação, para as instituições e para programas específicos.
Prevenção de infecção relacionada à assistência
Infecção da corrente sanguínea associada a cateter venoso central
Há anos a Anvisa considera item obrigatório o monitoramento e envio de dados referentes a infecções relacionadas à assistência. Em 2017, a agência atualizou os critérios de monitoramento e manipulação de materiais hospitalares com o intuito de mitigar esse tipo de dano ao paciente.
No mesmo ano, os hospitais Anahp adequaram as especificações dos indicadores propostos pelo Sistema de Indicadores Hospitalares Anahp (SINHA) de acordo com as expectativas do mercado e com os critérios da Anvisa. Dentre os indicadores monitorados pela associação está a densidade de incidência de infecção de corrente sanguínea laboratorial (IPCSL) associada a cateter venoso central (CVC) na UTI (Tabela 1).
TABELA 1 Infecção da corrente sanguínea associada a cateter venoso central nos hospitais Anahp

Fonte: SINHA/Anahp.
Esse acompanhamento tem contribuído para que a indicação do CVC seja mais adequada, sua retirada seja mais oportuna e o manuseio das equipes de enfermagem, mais padronizado.
Os hospitais devem aumentar seus esforços em reduzir a utilização de CVC ou limitar o tempo em que o paciente permanece com o dispositivo, uma vez que, segundo a Anvisa, o prolongamento de exposição dos pacientes ao dispositivo invasivo é o principal fator de risco para a infecção.
Infecção do trato urinário
Outro indicador monitorado pelos hospitais Anahp é a densidade de infecção do trato urinário (ITU) relacionada à utilização de cateter vesical de demora (CVD) (Tabela 2).
TABELA 2 Infecção do trato urinário nos hospitais Anahp

Fonte: SINHA/Anahp.
A literatura recomenda limitar ao mínimo necessário o tempo de sondagem vesical em pacientes internados. Dados da Anvisa[1] de 2020 mostram que a densidade de incidência de ITU associada a CVD foi de 3,24 a cada mil dispositivos-dia, tanto na UTI adulto quanto na UTI pediátrica.
Entre os hospitais Anahp, em 2021, a densidade de incidência de ITU relacionada a CVD foi de 1,35 a cada mil dispositivos-dia na UTI adulto e de 2,33 a cada mil dispositivos-dia na unidade de tratamento semi-intensivo. Cabe destacar que a taxa de utilização de CVD nas UTI adulto e unidade de tratamento semi-intensivo foi de 44,61% e de 14,72%, respectivamente, no ano em questão. Apesar do aumento expressivo na taxa de utilização, não houve piora nos indicadores de densidade de incidência, quando comparado com os anos pré-pandemia.
Também em 2021, na UTI pediátrica, a densidade de incidência de ITU relacionada a CVD foi de 0,19 a cada mil dispositivos-dia, com taxa de utilização de CVD de 11,86%. 2 ANVISA. “Avaliação Nacional dos indicadores de IRAS e RM — 2020”. In: Boletim Segurança do Paciente e Qualidade em Serviços de Saúde, n. 23. Disponível em: ; acesso em 24/02/2022.
A avaliação desses indicadores, correlacionados, serve de base para que cada hospital, com suas características epidemiológicas, adote medidas preventivas a fim de reduzir a incidência de infecção.
A prevalência de comorbidades e a elevação no escore de gravidade do paciente na entrada aumentam o risco de infecção hospitalar associada a dispositivos. Assim, a qualidade das medidas adotadas nas UTIs é um dos aspectos-chave na gestão de serviços hospitalares.
Pneumonia associada à ventilação mecânica
Quanto à pneumonia associada à ventilação mecânica (PAV), trata-se de uma infecção relacionada à intubação do paciente por mais de dois dias. Os resultados obtidos no período analisado são apresentados na Tabela 3.
TABELA 3 Pneumonia associada à ventilação mecânica nos hospitais Anahp

Fonte: SINHA/Anahp
De acordo com os dados da Anvisa[2] de 2020, a densidade de incidência de PAV na UTI adulto foi de 10,61 a cada mil ventiladores-dia. Na UTI neonatal, esse número foi de 3,81 a cada mil ventiladores-dia, enquanto na UTI pediátrica foi de 4,46 a cada mil ventiladores-dia no mesmo ano.
Entre os hospitais Anahp, em 2021, a densidade de incidência de PAV foi de 6,55 a cada mil ventiladores-dia na UTI adulto e de 3,88 a cada mil ventiladores-dia na unidade de tratamento semi- -intensivo. Vale notar que a taxa de utilização de ventilação mecânica foi de 34,34% na UTI adulto e de 4,07% na unidade de tratamento semi-intensivo, no ano em questão, números superiores aos registrados em anos anteriores, o que também pode ser resultado de pacientes internados com Covid-19.
Na UTI neonatal, a densidade de incidência de PAV foi de 2,07 a cada mil ventiladores-dia, e na UTI pediátrica, de 1,38 a cada mil ventiladores- -dia. Por sua vez, a taxa de utilização de ventilação mecânica na UTI neonatal e na UTI pediátrica foi de 13,83% e de 19,38%, respectivamente, no mesmo ano.
A redução do risco de infecção relacionada à assistência e à prevenção das complicações para os pacientes é um esforço contínuo de aprimoramento nas organizações. Assim, as ações nessa direção resultam em retorno mais rápido dos pacientes às suas atividades, menor custo social, menor proporção de incapacidades e melhor qualidade de vida. Tais ações contribuem ainda para menor risco de reinternações, o que proporciona economia de recursos para o sistema de saúde.
Infecções em sítio cirúrgico são aquelas relacionadas a procedimentos cirúrgicos, com ou sem colocação de implantes, em pacientes internados e ambulatoriais. As cirurgias limpas são aquelas sem sinais de inflamação, sem contato com os tratos respiratório, alimentar, genital e urinário e, portanto, com menor probabilidade de causar infecção no paciente atendido.
Infecção relacionada à cirurgia limpa
Dados de 2021 do Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE) de São Paulo indicam que os índices de infecção aceitáveis para cirurgias limpas podem variar de 1% a 5%[3]. A mensuração de indicadores relacionados a esse tipo de infecção favorece que se identifique a correlação entre ações de prevenção, executadas pela equipe hospitalar, e seu impacto sobre a ocorrência de tais infecções.
A seguir, são apresentados os dados relacionados a cirurgias limpas nos hospitais-membros (Tabela 4):
TABELA 4 Infecção relacionada à cirurgia limpa nos hospitais Anahp

Fonte: SINHA/Anahp.
Demarcação de lateralidade
Ainda em relação à segurança do paciente no ambiente cirúrgico, os hospitais Anahp acompanharam o indicador de demarcação de lateralidade, ou seja, o local de intervenção cirúrgica (direita, esquerda ou ambas, estruturas múltiplas) demarcado pelo cirurgião. Na análise desse indicador, quanto maior ele for, melhor será, ou seja, menor ou inexistente será o risco de procedimentos cirúrgicos com erros de lateralidade. Entre os hospitais associados, a taxa de demarcação de lateralidade foi de 96,08% em 2021, conforme observado na Tabela 5.
TABELA 5 Demarcação de lateralidade nos hospitais Anahp

Fonte: SINHA/Anahp
Entre os hospitais associados, a taxa de demarcação de lateralidade foi de 96,08% em 2021.
Qualidade da assistência
De modo a avaliar a qualidade da assistência de enfermagem e as práticas adotadas para melhoria contínua do cuidado, dois indicadores são historicamente utilizados: a densidade de incidência de quedas e a densidade de incidência de lesão por pressão.
De acordo com a Joint Commission International (JCI), queda é a situação na qual o paciente vai ao chão de forma não intencional, podendo ser classificada de acordo com a gravidade dos danos causados a ele: menor (resultou na aplicação de curativos, de gelo, na limpeza de uma ferida, na elevação de um membro, em medicação tópica, contusões ou abrasão), moderado (resultou em sutura, aplicação de sutura adesiva/cola para a pele, tala ou distensão muscular ou das articulações), maior (resultou em cirurgia, modelagem, tração, fratura ou requereu consulta para lesão neurológica ou de outras estruturas/órgãos internos) e morte (o paciente morreu em virtude das lesões resultantes da queda).
Segundo dados da Anvisa de 2018[4], foram notificados 11.372 casos de queda em hospitais, número que pode estar subestimado por falta de notificação do evento pela equipe multidisciplinar. Para a análise desse indicador, devemos levar em conta a premissa de que, quanto menor a quantidade de eventos ocorridos, ou seja, quanto menor a incidência, melhor.
Queda nos hospitais
Em 2021, os associados da Anahp obtiveram os resultados apresentados na Tabela 6. 5 ANVISA. “Incidentes relacionados à assistência à saúde — 2018”. In: Boletim Segurança do Paciente e Qualidade em Serviços de Saúde, n. 20. Disponível em: ; acesso em 24/02/2022.
TABELA 6 Queda nos hospitais Anahp

Fonte: SINHA/Anahp.
Lesão por pressão
Lesão por pressão é um dano localizado na pele e/ou em tecidos moles subjacentes, geralmente sobre a ossatura do paciente ou relacionado ao uso de dispositivo médico ou de outro artefato. A lesão ocorre como resultado da pressão intensa e/ou prolongada em combinação com o cisalhamento.
Ainda de acordo com dados da Anvisa[5], em 2018 foram notificados 19.297 casos de lesão por pressão no Brasil somente em unidades de internação, dado que reforça a importância do acompanhamento de tais indicadores.
Os indicadores de incidência e prevalência desse evento adverso são constantemente acompanhados pelos hospitais Anahp, a fim de, em conjunto, encontrarem barreiras efetivas para a mitigação do dano. Os resultados obtidos são mostrados na Tabela 7.
TABELA 7 Lesão por pressão nos hospitais Anahp

Fonte: SINHA/Anahp
A mudança de mix no perfil de pacientes, com casos de Covid-19 e internações mais prolongadas em 2020 e 2021, pode explicar o aumento observado nos indicadores relacionados a pacientes com 18 anos ou mais.
Os indicadores de incidência e prevalência de lesão por pressão são constantemente acompanhados pelos hospitais Anahp
Referências
Veja publicação original.
Originalmente publicado pela
