A crise no mercado de planos de saúde e o impacto do envelhecimento da população

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Joaquim Cardoso MSc.


Chief Research Officer (CSO), Chief Editor
Chief Strategy Officer (CSO) and Senior Advisor

August 7, 2023

Qual é a mensagem?

A crise no mercado de planos de saúde, que atravessa um cenário de prejuízos operacionais e alta sinistralidade, deve se aprofundar com a escalada da presença de idosos na base de clientes.

O aumento de preços é tratado por executivos do setor como uma das alternativas para ajudar a equilibrar as contas.

Quais são os principais pontos?

  • Este artigo publicado pelo jornal O Tempo aborda a crise enfrentada pelo mercado de planos de saúde, caracterizada por prejuízos operacionais e alta sinistralidade. A situação tende a se aprofundar devido ao aumento da presença de idosos entre os beneficiários. Executivos do setor consideram o aumento de preços como uma possível solução para equilibrar as contas.
  • O número de beneficiários com mais de 60 anos aumentou significativamente, passando de 3,3 milhões em 2000 para 7,3 milhões no ano atual, atingindo o recorde em todos os tipos de contratação de planos de saúde (individual, familiar, coletivo empresarial ou por adesão), conforme dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) analisados pelo Instituto de Estudos de Saúde Suplementar (IESS).
  • A presença de idosos representa atualmente cerca de 14% do total de beneficiários, e esse número continua crescendo tanto pelas novas adesões de contratantes idosos quanto pelo aniversário dos beneficiários antigos que completam 60 anos.
  • O “índice de envelhecimento da saúde suplementar” atingiu cerca de 74% no final de 2022, indicando que há quase 74 idosos para cada 100 jovens com menos de 15 anos. Esse valor é o mais alto registrado nas últimas duas décadas e aponta para uma transição demográfica avançada, o que pode pressionar a sustentabilidade financeira dos planos de saúde e o equilíbrio entre receitas e despesas.
  • Executivos do setor de planos de saúde consideram o aumento de preços como uma alternativa para enfrentar a crise, mas há preocupações sobre o impacto dessa medida, uma vez que o encarecimento dos planos pode afastar tanto os idosos quanto os clientes mais jovens, que ajudam a equilibrar o custo do atendimento aos idosos.
  • A Federação Nacional de Saúde Suplementar (FenaSaúde) projeta um crescimento de 47% no número de usuários de planos de saúde com mais de 60 anos até 2031, levando a um aumento de 20% nas despesas assistenciais das operadoras nesta década. O cuidado com os idosos consumirá 45% das despesas, acima dos atuais 35%.
  • O custo médio dos idosos é maior do que o das outras faixas etárias, devido ao maior número de doenças crônicas. No entanto, é essencial lembrar que o envelhecimento da população não é o único responsável pelo desequilíbrio financeiro no setor, pois a incorporação de tecnologia também contribui para o aumento dos custos com saúde.
  • Atualmente, os altos preços dos planos de saúde são um dos principais motivos de reclamação dos beneficiários, de acordo com a ONG de defesa do consumidor Idec.
  • A solução para a crise enfrentada pelo mercado de planos de saúde requer abordagens estratégicas além do aumento de preços, uma vez que isso pode afetar a acessibilidade dos planos para os beneficiários, especialmente os idosos que possuem rendas limitadas. Encontrar um equilíbrio entre a solidariedade entre as gerações e a sustentabilidade financeira é fundamental para garantir o acesso aos serviços de saúde para toda a população.

DETALHAMENTO

Planos de saúde batem recorde de idosos e estudam alta de preços

Joana Cunha, da Agência Folhapress

21 de julho de 2023

A crise no mercado de planos de saúde, que atravessa um cenário de prejuízos operacionais e alta sinistralidade, deve se aprofundar com a escalada da presença de idosos na base de clientes. O aumento de preços é tratado por executivos do setor como uma das alternativas para ajudar a equilibrar as contas.

O número de beneficiários com mais de 60 anos saltou de 3,3 milhões no ano 2000 para 7,3 milhões neste ano, atingindo o recorde da faixa etária em todos os tipos de contratação de planos de saúde, tanto nos individuais e familiares quanto nos coletivos empresariais ou por adesão, segundo análise do IESS (Instituto de Estudos de Saúde Suplementar) com base nos dados da ANS (agência reguladora do setor).

Hoje, os mais velhos representam cerca de 14% do total de beneficiários – e a presença cresce por meio das novas adesões de contratantes já idosos, mas também pelo aniversário dos beneficiários antigos que completaram 60 anos.

O chamado índice de envelhecimento da saúde suplementar, indicador que compara os grupos etários das extremidades da população, ficou em torno de 74% no fim de 2022, ou seja, hoje há quase 74 idosos para cada 100 jovens com menos de 15 anos. De acordo com o IESS, trata-se do maior patamar da série histórica iniciada há duas décadas, quando o índice ficava abaixo de 50%.

Valores elevados desse indicador apontam que a transição demográfica está em estágio avançado, podendo pressionar a sustentabilidade financeira dos planos de saúde e o equilíbrio das receitas com as despesas.

“Não tem como fugir da realidade: com o nosso envelhecimento, nossas despesas com saúde crescem. Isso vai se refletir no preço, invariavelmente”, diz Marcos Novais, superintendente da Abramge (Associação Brasileira de Planos de Saúde).

A FenaSaúde (federação de operadoras) aponta projeções de um crescimento de 47% no contingente de usuários de planos de saúde com mais de 60 anos até 2031, provocando um avanço de 20% nas despesas assistenciais das operadoras nesta década. Com isso, os cuidados com os idosos consumirão 45% do total dessas despesas, acima dos atuais 35%.

José Cechin, superintendente do IESS, avalia que, para resolver o gargalo, não basta elevar os preços, já que o encarecimento dos planos pode espantar clientes, inclusive os mais jovens, que contribuem para equilibrar o peso do custo do idoso.

Segundo ele, pelas regras do setor, a forma como os planos são precificados permite que os idosos paguem um pouco menos do que o custo médio de sua faixa etária porque os mais novos pagam um pouco mais, contribuindo para a solidariedade entre as gerações. Desse modo, a presença dos jovens ajuda a balancear o sistema.

“Há um limite para a elevação da curva de preços. O aumento tende a desestimular os jovens de permanecerem no plano. Essa não é uma saída de longo prazo. Então, qual é a saída? Ainda não a conhecemos”, diz Cechin.

A média da despesa assistencial per capita dos idosos em operadoras do segmento de autogestão foi de R$ 10 mil em 2020, segundo relatório da FenaSaúde com base em dados da Unidas (entidade que reúne instituições de autogestão). Na faixa até 18 anos, essa média foi de R$ 1.400 no ano.

Cechin afirma que o custo do idoso, em média, é maior do que o do beneficiário de outras faixas etárias porque costuma ter mais doenças crônicas. Ele ressalva que o debate sobre o tema requer cuidado para não passar uma impressão equivocada de que o envelhecimento da população é o grande culpado pelo desequilíbrio.

“A situação é um pouco mais complicada. O custo com saúde cresce por múltiplos fatores. A incorporação de tecnologia é o principal deles, no mundo todo, nos EUA, no Japão e aqui”, afirma.

Os preços já são altos e estão entre os principais motivos de reclamações dos beneficiários, segundo a ONG de defesa do consumidor Idec.

Atualmente, se um idoso de 77 anos fizer uma simulação para comparar preços no site da Qualicorp, vai encontrar opções que variam de R$ 660 até quase R$ 7.000 por mês. O plano compromete parte significativa da renda se ele for aposentado na média do INSS, com cerca de R$ 1.700 por mês.

Nas opções mais baratas, com até R$ 820, ele só encontra planos sem quarto individual, sem direito a reembolso e sem uma rede credenciada -ou com poucos hospitais (menos de 20).

A presença dos mais velhos sobe em todos os tipos de plano. No caso dos individuais e familiares, o reajuste não pode superar o teto definido pela ANS a cada ano. Mas a categoria dos coletivos empresariais, que acumulam quase 34% de crescimento no número de idosos na década, e os coletivos por adesão (19%) são livres para repassar altas de preços.

O Idec tem procurado a ANS para apresentar as crescentes reclamações sobre preços recebidas pelas instituições de defesa do consumidor e levar propostas para limitar o aumento nos planos coletivos. A ONG também pede à agência reguladora que exija mais transparência das operadoras no cálculo do reajuste.

Marina Paullelli, advogada do Idec, diz ter receio de um impacto para o consumidor. “Os argumentos de cunho financeiro são sempre levantados pelas operadoras como um entrave para a continuidade dos planos de saúde ou uma defesa para flexibilizar direitos do consumidor. Esses argumentos devem ser lidos com cuidado”, diz.

Nomes citados

Joana Cunha (repórter da Agência Folhapress)

Marina Paullelli (advogada do Idec)

José Cechin (superintendente do IESS)

Marcos Novais (superintendente da Abramge)

Para ler o artigo completo, acesse: https://www.otempo.com.br/economia/planos-de-saude-batem-recorde-de-idosos-e-estudam-alta-de-precos-1.3072258

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