O Globo — Receita de Médico
Paulo Hoff
Oncologista, diretor de Oncologia da Rede D’Or
26 de Setembro de 2021.
credit to the image: ec.europa
Há pouco mais de um ano e meio, vivemos um verdadeiro “tsunami” na saúde, com implicações ainda pouco compreendidas.
Conhecemos uma nova doença que paralisou o mundo, trouxe milhares de mortes, forçou as nações a se reinventarem e que, além de tudo, complicou o manejo de praticamente todas as outras doenças já existentes.
Diante da gravidade da pandemia de Covid-19, não importa o quão relevante o problema de saúde, muitas áreas ficaram em segundo plano.
No atual cenário, com o coronavírus começando a mostrar os primeiros sinais de arrefecimento, o processo de vacinação avançando, e a vida retomando aos poucos ao normal, o que se vê é um enorme desafio em controlar as demais doenças que ficaram desatendidas pelo caminho, mas que ainda estão presentes de forma avassaladora na vida das pessoas.
Uma delas, infelizmente, é o câncer.
Durante os dois últimos anos os tratamentos, exames e consultas oncológicas foram suspensos ou muito reduzidos, tanto do lado dos pacientes, que tinham medo do deslocamento e de frequentar instituições de saúde, quanto do lado dos hospitais e clínicas, que viveram períodos de angústia, ansiedade e esforço sobre-humano para garantir a todos um atendimento adequado.
Durante os dois últimos anos os tratamentos, exames e consultas oncológicas foram suspensos ou muito reduzidos
Com isso, a detecção e o tratamento de doenças graves, como o câncer, também sofreram. Estimativas iniciais apontam que tivemos uma redução de até 30% nos diagnósticos de novas neoplasias. Estes pacientes têm a doença, mas o diagnóstico foi “atrasado”.
Estimativas iniciais apontam que tivemos uma redução de até 30% nos diagnósticos de novas neoplasias. Estes pacientes têm a doença, mas o diagnóstico foi “atrasado”.
Antes da pandemia já tínhamos a informação de que mais de 600 mil brasileiros recebem o diagnóstico de câncer todos os anos. Desses, cerca de 35%, vem a óbito.
Mais preocupante é o fato de a doença estar em uma fase de incidência crescente.
- Estima-se que, em dez anos, será a causa de morte mais frequente nos Estados Unidos.
- O Brasil está nesse mesmo caminho, o que indica a importância de se investir no cuidado e na prevenção. Essa é nossa melhor arma para combater o câncer e elevar a chance de cura.
Antes da pandemia já tínhamos a informação de que mais de 600 mil brasileiros recebem o diagnóstico de câncer todos os anos (e crescendo). Desses, cerca de 35%, vem a óbito.
Infelizmente, a pandemia pode ter nos forçado na direção oposta, e justamente por isso a relevância de tentarmos frear o aumento da doença nos antecipando a ela.
Claro que, quando falamos em prevenir e evitar, é preciso lembrar que muitos tipos de câncer ainda não são passíveis de medidas de prevenção, nem no âmbito primário nem secundário, mas podemos combater e reduzir esse triste índice em outras frentes.
É primordial que cada pessoa faça a sua parte na tentativa de evitar o surgimento da doença com prevenção adequada. Hábitos como não fumar, manter o peso, ter uma dieta equilibrada, beber com moderação, usar preservativo e evitar o sedentarismo são grandes passos para evitarmos uma série de tipos mais frequentes de câncer.
Nossa experiência na OncoStar, unidade que concentra a maior parte dos casos de câncer da rede D’Or em São Paulo, sugere que cerca da metade dos pacientes que chegam para tratamento receberam o diagnóstico nos estágios mais avançados. Infelizmente, é uma situação em que a probabilidade de cura é menor.
… cerca da metade dos pacientes que chegam para tratamento receberam o diagnóstico nos estágios mais avançados
Com a pandemia controlada, precisamos com urgência voltar nossos olhos para as doenças crônicas graves, e que precisam de um alto grau de comprometimento do paciente e das instituições médicas.
Vamos incentivar os exame de prevenção e controle. Só assim poderemos evitar uma nova pandemia, agora.
Vamos incentivar os exame de prevenção e controle. Só assim poderemos evitar uma nova pandemia, agora.
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