CNN Brasil
Elis Franco
12 de Abril de 2022
Ludhmila Hajjar
Esta é uma republicação da entrevista à CNN, juntamente com o vídeo. A seguir há um comentário em Inglês, seguido de um Abstract da publicação original (para os interessados em mais detalhes).
Em entrevista à CNN, a médica cardiologista Ludhmila Hajjar repercutiu os principais destaques da pesquisa publicada na Nature
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A Covid-19 é causada por um vírus de transmissão respiratória, o SARS-CoV-2 ou novo coronavírus. Embora tenha sido descrita inicialmente como uma infecção viral do trato respiratório, com os efeitos esperados principalmente para órgãos como a traqueia e os pulmões, a doença se revelou um verdadeiro quebra-cabeças, com impactos significativos para outros órgãos do corpo.
Cientistas da Universidade de Washington, nos Estados Unidos, realizaram um amplo estudo que revelou que a infecção causada pela Covid-19 aumenta os riscos do desenvolvimento de doenças cardiovasculares.
O estudo, publicado no periódico científico Nature, aponta que a probabilidade de problemas no coração aumenta até mesmo entre os pacientes que apresentaram casos leves da doença.
As taxas de diferentes condições, como insuficiência cardíaca e acidente vascular cerebral (AVC), se mostraram substancialmente mais altas em pessoas que se recuperaram da infecção do que em indivíduos com perfil semelhante que não tiveram a doença.
De acordo com a análise, o risco foi elevado mesmo para aqueles com menos de 65 anos de idade e sem fatores de risco, como obesidade ou diabetes. As pessoas que se recuperaram da Covid-19 apresentaram aumentos acentuados em pelo menos 20 problemas cardiovasculares ao longo de um ano após a infecção.
Em relação ao acidente vascular cerebral, os recuperados eram 52% mais propensos a ter o problema do que aqueles que não foram expostos ao contágio. Já o risco de insuficiência cardíaca aumentou 72%.
Embora a hospitalização tenha aumentado a probabilidade de complicações cardiovasculares futuras, mesmo as pessoas que não foram internadas estavam em maior risco de muitas condições cardíacas.
Em entrevista à CNN, a médica cardiologista Ludhmila Hajjar repercutiu os principais destaques do estudo norte-americano.
“Nós entendemos, ao longo dos meses iniciais da doença, que o coração e os vasos sanguíneos também são afetados pela doença. Então, a Covid-19 é uma doença que hoje a gente chama sistêmica”, diz a médica.
No estudo da Nature, foram utilizadas informações de bancos de dados de saúde do Departamento de Assuntos de Veteranos dos Estados Unidos. Os pesquisadores avaliaram dados de mais de 153 mil indivíduos que tiveram Covid-19, além de dois conjuntos de populações que não tiveram a doença, chamadas tecnicamente de “controle”, sendo dados atuais de 5.6 milhões de indivíduos, e dados históricos de 5,8 milhões de pessoas.
A comparação das informações em saúde permitiu estimar os riscos de um conjunto de desfechos cardiovasculares no período de um ano.
“Pesquisadores da Universidade de Washington acompanharam 153 mil indivíduos que tiveram Covid-19 e se curaram. Destes indivíduos, uma boa parte teve a forma leve e nem foi hospitalizada. Uma outra parte ficou hospitalizada em quarto ou enfermaria normal, e uma minoria ficou internada na UTI”, explica.
Segundo a cardiologista, um dos principais achados do estudo foi a evidência científica de que a Covid-19 pode ocasionar complicações cardiovasculares a longo prazo.
“Eles perceberam que um ano após a Covid-19, independente da forma da doença — leve, moderada ou grave, os pacientes que tiveram Covid-19 tiveram um aumento significante de complicações cardíacas ou de doenças que afetam o coração e os vasos. Dentre elas, o infarto agudo do miocárdio, a angina, o acidente vascular cerebral, a embolia de pulmão, a trombose dos vasos, as miocardites, as perdicardites e as arritmias cardíacas”, afirma.
A cardiologista explica que o aumento no risco de problemas cardiovasculares está associado ao desequilíbrio no sistema imunológico ocasionado pela Covid-19, que também acontece em quadros de outras doenças inflamatórias, como o câncer.
Ela destaca que os achados do estudo norte-americano também reforçam as evidências de que os riscos de complicações cardíacas graves são altos pela infecção natural. Além disso, segundo a cardiologista, problemas cardíacos ocasionados por eventuais reações adversas à vacina são extremamente raros.
“A vacina contra a Covid-19 é a melhor maneira de prevenir contra a doença, contra as complicações cardiovasculares e, inclusive, contra a miocardite”, enfatiza.
*Sob supervisão de Elis Franco
Originally published at https://www.cnnbrasil.com.br.
COMMENT ABOUT THE ORIGINAL PUBLICATION
Heart-disease risk soars after COVID — even with a mild case
Massive study shows a long-term, substantial rise in risk of cardiovascular disease, including heart attack and stroke, after a SARS-CoV-2 infection.
Nature
Saima May Sidik
10 February 2022
The risk of 20 diseases of the heart and blood vessels is high for at least a year after a COVID-19 diagnosis. Credit: Living Art Enterprises/Science Photo Library
Even a mild case of COVID-19 can increase a person’s risk of cardiovascular problems for at least a year after diagnosis, a new study1 shows. Researchers found that rates of many conditions, such as heart failure and stroke, were substantially higher in people who had recovered from COVID-19 than in similar people who hadn’t had the disease.
What’s more, the risk was elevated even for those who were under 65 years of age and lacked risk factors, such as obesity or diabetes.
“It doesn’t matter if you are young or old, it doesn’t matter if you smoked, or you didn’t,” says study co-author Ziyad Al-Aly at Washington University in St. Louis, Missouri, and the chief of research and development for the Veterans Affairs (VA) St. Louis Health Care System. “The risk was there.”
Al-Aly and his colleagues based their research on an extensive health-record database curated by the United States Department of Veterans Affairs. The researchers compared more than 150,000 veterans who survived for at least 30 days after contracting COVID-19 with two groups of uninfected people: a group of more than five million people who used the VA medical system during the pandemic, and a similarly sized group that used the system in 2017, before SARS-CoV-2 was circulating.
Troubled hearts
People who had recovered from COVID-19 showed stark increases in 20 cardiovascular problems over the year after infection. For example, they were 52% more likely to have had a stroke than the contemporary control group, meaning that, out of every 1,000 people studied, there were around 4 more people in the COVID-19 group than in the control group who experienced stroke.
The risk of heart failure increased by 72%, or around 12 more people in the COVID-19 group per 1,000 studied. Hospitalization increased the likelihood of future cardiovascular complications, but even people who avoided hospitalization were at higher risk for many conditions.
“I am actually surprised by these findings that cardiovascular complications of COVID can last so long,” Hossein Ardehali, a cardiologist at Northwestern University in Chicago, Illinois, wrote in an e-mail to Nature. Because severe disease increased the risk of complications much more than mild disease, Ardehali wrote, “it is important that those who are not vaccinated get their vaccine immediately”.
Ardehali cautions that the study’s observational nature comes with some limitations. For example, people in the contemporary control group weren’t tested for COVID-19, so it’s possible that some of them actually had mild infections. And because the authors considered only VA patients — a group that’s predominantly white and male — their results might not translate to all populations.
Ardehali and Al-Aly agree that health-care providers around the world should be prepared to address an increase in cardiovascular conditions. But with high COVID-19 case counts still straining medical resources, Al-Aly worries that health authorities will delay preparing for the pandemic’s aftermath for too long. “We collectively dropped the ball on COVID,” he said. “And I feel we’re about to drop the ball on long COVID.”
doi: https://doi.org/10.1038/d41586-022-00403-0
References
- Xie, Y., Xu, E., Bowe, B. & Al-Aly, Z. Nature Med. https://www.nature.com/articles/s41591-022-01689-3 (2022).
Originally published at https://www.nature.com
ORIGINAL PUBLICATION
Long-term cardiovascular outcomes of COVID-19
Nature Medicine
Yan Xie, Evan Xu, Benjamin Bowe & Ziyad Al-Aly
07 February 2022
Abstract
The cardiovascular complications of acute coronavirus disease 2019 (COVID-19) are well described, but the post-acute cardiovascular manifestations of COVID-19 have not yet been comprehensively characterized.
Here we used national healthcare databases from the US Department of Veterans Affairs to build a cohort of 153,760 individuals with COVID-19, as well as two sets of control cohorts with 5,637,647 (contemporary controls) and 5,859,411 (historical controls) individuals, to estimate risks and 1-year burdens of a set of pre-specified incident cardiovascular outcomes.
We show that, beyond the first 30 d after infection, individuals with COVID-19 are at increased risk of incident cardiovascular disease spanning several categories, including cerebrovascular disorders, dysrhythmias, ischemic and non-ischemic heart disease, pericarditis, myocarditis, heart failure and thromboembolic disease.
These risks and burdens were evident even among individuals who were not hospitalized during the acute phase of the infection and increased in a graded fashion according to the care setting during the acute phase (non-hospitalized, hospitalized and admitted to intensive care).
Our results provide evidence that the risk and 1-year burden of cardiovascular disease in survivors of acute COVID-19 are substantial.
Care pathways of those surviving the acute episode of COVID-19 should include attention to cardiovascular health and disease.
Originally published at https://www.nature.com