Folha de S.Paulo
Sidney Klajner, Presidente da Sociedade Israelita Albert Einsten
4 de Dezembro de 2021
Evidências científicas, vivência com os pacientes, trabalho em equipe e capacidade técnica acompanhada de competências socioemocionais, como saber ouvir e se comunicar, são elementos fundamentais na formação dos médicos.
No entanto, o paciente também é parte ativa do processo, com direito a escolhas e participação nas decisões. E aqui entra outro componente que as escolas de medicina nem sempre priorizam: humanidade. Mas como formar médicos com esse novo perfil? Para ter resultados diferentes é preciso fazer diferente.
Leia o meu novo artigo em minha coluna na Folha de S.Paulo e saiba como o Hospital Israelita Albert Einstein estruturou um curso inovador com uma medicina conectada entre o presente e o futuro: https://lnkd.in/eX7_erCf
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Tradicionalmente, os médicos são formados para desenvolver sua atividade dentro do hospital.
Esse modelo remonta a 1910, quando o Relatório Flexner inspirou uma grande reforma das escolas médicas nos Estados Unidos e no mundo.
Os professores ensinavam com base em sua vivência prática (não em evidências), e o conceito era de absoluta autonomia dos médicos para decidir o que era melhor para o paciente.
No início dos anos 1970, a medicina baseada em evidências impôs limites a essa autonomia.
Mas, como vimos na pandemia, ela ainda é usada para justificar a prescrição de medicamentos comprovadamente ineficientes.
Tanto as evidências científicas quanto a vivência com os pacientes são essenciais, assim como a articulação entre teoria e prática desde o início do curso, o que pode não ocorrer com frequência nos cursos tradicionais de medicina.
Além disso, capacidade técnica precisa vir acompanhada de competências socioemocionais, como saber ouvir e se comunicar e trabalhar em equipe, em colaboração com outros médicos e demais profissionais.
O médico “lobo solitário” é coisa do passado, assim como a visão do paciente como um ser passivo.
O médico “lobo solitário” é coisa do passado, assim como a visão do paciente como um ser passivo.
O paciente é parte ativa do processo, com direito a escolhas e participação nas decisões.
E aqui entra outro componente que as escolas de medicina nem sempre priorizam: humanidade, ou seja, o médico precisa ter uma visão do ser humano que está sob seus cuidados, entendendo seus medos e vontades, respeitando seus valores, preferências, contextos de vida, etc.
Como formar médicos com esse novo perfil?
Para ter resultados diferentes é preciso fazer diferente.
Por isso, quando criamos a Faculdade de Medicina do Einstein, buscamos referências em instituições internacionais para estruturar um curso inovador.
- As mudanças começam no processo seletivo, com uma primeira fase que mede os conhecimentos e uma segunda, de avaliação socioemocional, com dinâmicas e minientrevistas em que são observados aspectos como empatia, ética e capacidade de trabalho em equipe. Muitos “gênios” da fase 1 fracassam na 2.
- No curso, adotamos o modelo TBL (Team Based Learning). Alunos reunidos em grupos estudam o assunto previamente e vão para a aula construir conhecimento. O professor é um provocador/direcionador das discussões. Teoria vem combinada com aulas práticas desde o começo.
- Um eixo de quatro semestres aborda humanização. Também enfatizamos temas como bioética, transformação digital e importância da atenção primária na prevenção de doenças e promoção da saúde (já nas etapas iniciais os alunos desenvolvem atividades ao lado dos times do Programa Saúde da Família).
- No internato, atuam tanto na rede privada do Einstein como nos hospitais públicos sob sua gestão. Disciplinas específicas e simulações exercitam os alunos em ferramentas de gestão e práticas de liderança, desenvolvendo sua capacidade de influenciar mudanças que ajudem a superar os muitos desafios da saúde, entre eles ampliação do acesso, redução de desperdícios, melhor coordenação do cuidado, impulso à digitalização e novos modelos de remuneração que incentivem a promoção da saúde.
Neste dezembro, estamos formando a primeira turma da Faculdade de Medicina do Einstein.
Na bagagem, esses jovens profissionais carregam o melhor conteúdo técnico e todas as demais competências indispensáveis para exercer uma medicina conectada com o presente e o futuro.
Atuando na nossa ou em qualquer outra organização, estarão levando adiante o propósito do Einstein: entregar vidas saudáveis a um número cada vez maior de pessoas.
Originally published at https://www1.folha.uol.com.br on December 4, 2021.