Pandemia é oportunidade para ajustar as velas do barco da saúde

Ventos transformadores devem permear modelo de remuneração por serviço


Folha de São Paulo
Sidney Klajner

Presidente da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein25 de Janeiro de 2022
marsemfim


Diz um ditado que o velejador pessimista reclama do vento forte, já o otimista espera que ele passe logo, e o sábio, por sua vez, ajusta as velas para imprimir velocidade ao barco.


A pandemia de Covid-19, em suas ondas, escancarou a ineficiência do nosso sistema de saúde, e o problema se renova com a disseminação da variante ômicron. 

Mas, apesar das dificuldades, a crise sanitária é uma oportunidade de ajustar as velas em um setor que acumula desafios. 

O problema é que temos carecido de velejadores sábios.

O problema é que temos carecido de velejadores sábios.


Uma questão basilar é ampliar o acesso à saúde. 


Como o orçamento é limitado, a solução é combater desperdícios e usar de maneira inteligente a estrutura e os recursos disponíveis. 

Isso significa ampliar a atenção primária — é com ela que conseguimos prevenir uma miríade de doenças e manter sob controle as crônicas, que aumentam com o envelhecimento da população.


O paciente certo tem que ir para o lugar certo: 


casos de baixa complexidade, na atenção primária; 
média complexidade, na secundária; 
 alta complexidade, na terciária. 

Alguém com gripe no pronto-socorro, onde se pode atender uma pessoa com infarto, é um desperdício.


Quantas cidades não têm sequer um posto de saúde, mas têm um belo hospital, que acaba ocioso, sem demanda? 

E os hospitais prontos e equipados que permanecem fechados aguardando contratações?


É preciso uma assistência com base em protocolos e respaldada na ciência, sem prescrição de exames ou procedimentos desnecessários. 

Tecnologias digitais e telemedicina também são trunfos para manejar o barco da saúde e promover a inclusão.


Os ventos transformadores precisam permear inclusive o modelo de remuneração por serviço …


que ainda impera na saúde suplementar e que, no fundo, premia a doença. 


Estratégias baseadas no conceito de valor em saúde (relação entre bons resultados do cuidado do paciente e custo) são instrumentos poderosos para impulsionar a qualidade da assistência, reduzir os desperdícios e ampliar o acesso. 

Há outros desafios (como obter investimentos, prevenir fraudes, lidar com a judicialização), mas especialmente o de pôr o paciente como agente de cuidado da própria saúde. 


Precisamos educar e estimular um estilo de vida saudável, por exemplo, para combater sedentarismo, obesidade, tabagismo e controlar diabetes e hipertensão.


O acesso à boa informação…

… ajuda a combater comportamentos deletérios, como o caso daquele que vai a vários médicos e faz repetidos exames para ratificar um mesmo diagnóstico. 

Olha tempo e dinheiro indo para o ralo!


E se temos vacinas disponíveis para combater a Covid-19 e prevenir mortes, temos que agradecer e estimular que as doses cheguem ao braço da população. 


Aqui a mensagem é que cada injeção amplia a chance de termos uma vida mais longa e saudável. 

Precisamos compreender a situação turbulenta em que vivemos, e, como o sábio velejador, ajustar as velas para que ele nos leve para o futuro que almejamos.


Se falharmos, continuaremos a ter um sistema de saúde que não consegue cumprir seu papel primordial: o de entregar saúde.

Se falharmos, continuaremos a ter um sistema de saúde que não consegue cumprir seu papel primordial: o de entregar saúde.

Originally published at : Folha de São Paulo

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