Atrasos e interrupções no tratamento dificultam o controle do câncer no Brasil


Setor Saúde
Entrevistado: Dr. Paulo Hoff

3 de Fevereiro de 2022


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by Joaquim Cardoso MSc
Chief Editor of the blog “The Digital Health Strategist”
(a content platform)


Nesta sexta-feira, 4 de fevereiro, diversas organizações no Brasil e no mundo chamam a atenção para o Dia Mundial do Câncer ;

  • O câncer afetou mais de 600 mil pessoas no Brasil em 2021
  • A melhor forma de combater o câncer ainda é por meio do diagnóstico precoce e do início imediato do tratamento.

Para aumentar o rastreamento do câncer e combatê-la de antemão, ainda há muitos desafios a serem superados no Brasil.

  • “Hoje, trabalhamos com um modelo de atendimento muito focado em especialidades e não em atenção básica de saúde.
  • “Com a intensificação e o refinamento de um modelo de atenção básica de saúde, com médicos que atuam por uma abordagem mais generalista, como o da família, por exemplo, seria possível identificar precocemente a doença.
  • É preciso mais investimento em prevenção e diagnóstico — e atenção ao tempo de espera pelo início do tratamento”, defende o especialista

Além da questão do diagnóstico precoce e tratamento imediato, no Brasil, tanto o sistema de saúde público quanto o privado enfrentam outros desafios e entraves.

  • Um dos principais deles é em relação ao abastecimento de medicamentos no SUS.
  • A cada quatro semanas de atraso no tratamento do câncer, o risco de morte aumenta em até 13%.
  • A incorporação de novas tecnologias nos sistemas de saúde também é um ponto de alerta para oncologistas e pacientes de todo o país.
  • … mesmo após incorporados muitos deles não são devidamente ofertados à população.

A SBOC pede ao governo federal que se esforce em manter o cronograma de entregas de medicamentos aos brasileiros em todo o território nacional”,



Nesta sexta-feira, 4 de fevereiro, diversas organizações no Brasil e no mundo chamam a atenção para o Dia Mundial do Câncer — data criada pela União Internacional para o Controle do Câncer (UICC) e Organização Mundial da Saúde (OMS) para conscientizar a população sobre a doença. 

Caracterizado pelo crescimento desordenado de células anormais, que podem invadir e destruir tecidos e órgãos do corpo, o câncer afetou mais de 600 mil pessoas no Brasil em 2021, segundo estimativas do Instituto Nacional de Câncer (INCA).


Apesar dos avanços da medicina nos últimos anos, a melhor forma de combater o câncer ainda é por meio do diagnóstico precoce e do início imediato do tratamento. 

Em estágio inicial, muitos tipos de câncer podem ser controlados e mesmo eliminados por meio de procedimentos como cirurgia para remoção da parte afetada, quimioterapia e radioterapia. 

Já a doença em sua forma avançada e metastática só pode ser combatida com medicamentos e outras tecnologias, cujos custos podem ser altíssimos.

“Identificar o câncer em seus estágios iniciais pode ser decisivo para o sucesso do tratamento, mas só isso não basta — também é preciso iniciar a terapia o quanto antes, quando a doença muitas vezes pode ser controlada por meio de abordagens de custo muito mais reduzido”, enfatiza o presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), Dr. Paulo Hoff . 

“Levar isso em consideração é fundamental para cuidar do paciente e também da sustentabilidade dos sistemas de saúde”, acrescenta.


Para aumentar o rastreamento do câncer e combatê-la de antemão, ainda há muitos desafios a serem superados no Brasil

“Hoje, trabalhamos com um modelo de atendimento muito focado em especialidades e não em atenção básica de saúde. 
A maioria dos pacientes descobre o câncer ao ir a consultas de rotina, como durante a ida anual ao ginecologista”, comenta Dr. Paulo Hoff. 

“Com a intensificação e o refinamento de um modelo de atenção básica de saúde, com médicos que atuam por uma abordagem mais generalista, como o da família, por exemplo, seria possível identificar precocemente a doença. 

É preciso mais investimento em prevenção e diagnóstico — e atenção ao tempo de espera pelo início do tratamento”, defende o especialista.


É preciso mais investimento em prevenção e diagnóstico — e atenção ao tempo de espera pelo início do tratamento”, defende o especialista.


Barreiras

Além da questão do diagnóstico precoce e tratamento imediato, no Brasil, tanto o sistema de saúde público quanto o privado enfrentam outros desafios e entraves. 

Um dos principais deles é em relação ao abastecimento de medicamentos no SUS. Diversos tratamentos têm passado por longos períodos de interrupção da entrega pelo Ministério da Saúde, como é o caso do anticorpo monoclonal usado em pacientes com câncer de mama HER2 positivo. 

Outras moléculas encontram-se na mesma situação, o que preocupa secretarias de saúde, médicos e pacientes.


Um estudo publicado em 2020 no The British Medical Journal demonstrou que, a cada quatro semanas de atraso no tratamento do câncer, o risco de morte aumenta em até 13%. 

“Esses atrasos e interrupções nos tratamentos têm grande impacto no sucesso do controle do câncer, dificultado profundamente a vida dos pacientes. 
A SBOC pede ao governo federal que se esforce em manter o cronograma de entregas de medicamentos aos brasileiros em todo o território nacional”, defende Dr. Paulo Hoff.


… a cada quatro semanas de atraso no tratamento do câncer, o risco de morte aumenta em até 13%.


A SBOC pede ao governo federal que se esforce em manter o cronograma de entregas de medicamentos aos brasileiros em todo o território nacional”,


A incorporação de novas tecnologias nos sistemas de saúde também é um ponto de alerta para oncologistas e pacientes de todo o país. 

Isso porque, além das dificuldades enfrentadas para que os órgãos reguladores incorporem novos medicamentos contra o câncer, mesmo após incorporados muitos deles não são devidamente ofertados à população. 

  • No SUS há pelo menos sete tratamentos já incorporados que seguem indisponíveis para o paciente oncológico. 
  • Dois deles, contra tipos diferentes do câncer de pulmão, estão há sete anos sem serem adequadamente financiados. 
  • Tratamentos incorporados recentemente parecem seguir o mesmo caminho, como a imunoterapia contra melanoma avançado, prestes a completar um ano desde a publicação da portaria que obriga sua cobertura na rede pública.

A incorporação de novas tecnologias nos sistemas de saúde também é um ponto de alerta para oncologistas e pacientes de todo o país. …(em outros casos) …mesmo após incorporados muitos deles não são devidamente ofertados à população.

“A preocupação em relação ao tratamento do câncer é extremamente significativa, pois se trata da segunda doença que mais causa mortes no país. 

Vale ressaltar que o tratamento do câncer não pode esperar”, avalia o presidente da SBOC.

… o tratamento do câncer não pode esperar.


Sobre a SBOC

A Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC) é a entidade nacional que representa mais de 2,5 mil especialistas em oncologia clínica distribuídos pelos 26 estados brasileiros e o Distrito Federal. Fundada em 1981, a SBOC tem como objetivo fortalecer a prática médica da oncologia clínica no Brasil, de modo a contribuir afirmativamente para a saúde da população brasileira. É presidida pelo médico oncologista Dr. Paulo Hoff.


Originally published at https://setorsaude.com.br.

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